Para marcar o Dia Internacional da Mulher, participantes da Cooperativa Coopere-Centro e do Programa Reviravolta, do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, desenvolveram um encontro sobre medidas preventivas para evitar o contágio da Covid-19 e cuidados com a saúde emocional da mulher. 

A atividade com as mulheres catadoras de materiais recicláveis foi planejada para ser um encontro de escuta e acolhimento onde todas pudessem compartilhar como está sendo passar pela pandemia e levantar as principais questões enfrentadas no trabalho e em casa. O encontro contou com a participação de 33 cooperadas, respeitando todos os cuidados para evitar a contaminação do coronavírus, como o distanciamento social e a higienização do espaço, bem como outras adequações de segurança exigidas pela Prefeitura de São Paulo.

“Ficamos com muita dúvida sobre realizar ou não um encontro presencial na pandemia. Mas fizermos um exercício para pensar o distanciamento necessário, não apenas para a atividade, mas também para o uso cotidiano daquele espaço, que desde o começo da pandemia tem sido também de resistência a toda a crise econômica e sanitária que enfrentamos no país”, contextualiza Sheila Marcolino, coordenadora do Programa Reviravolta, cujo galpão inclui oficinas de cidadania, espaço de convivência  e atividades de reciclagem. 

“Começamos falando sobre o atual cenário de contaminação pela Covid-19, que implicou no retorno da fase vermelha, e fizemos um breve levantamento para saber se alguém havia perdido familiares, se estava com parentes contaminados ou que foi hospitalizado. Também perguntamos como elas se sentiam tendo que realizar o trabalho com reciclagem nesse momento, sendo unânime o sentimento de medo de se contaminar e contaminar a família, pois todas entendem que sempre estiveram expostas a riscos, mas agora estão muito mais”, complementa Sheila.

Também colaboraram com a construção e realização da atividade a assistente social do Reviravolta, Thaís Domingos Graciano Rocha, e as coordenadoras da Coopere-Centro, Crispiniana santos de Jesus e Vanessa Sant’ana Ramos.

Resiliência e cuidado no dia a dia

O cuidado na atividade realizada com o grupo de mulheres na Coopere foi tratado em dois momentos. No início da conversa, a discussão se deu em relação às medidas de segurança no trabalho, uma vez que o cotidiano com reciclagem as expõe ao contágio. “A separação dos materiais nem sempre é feita da maneira correta por quem os descarta e há incidência de descarte irregular, como máscaras usadas junto aos resíduos secos. Então, as participantes do encontro refletiram sobre as preocupações coletivas dentro da cooperativa e apontaram as dificuldades de estruturar seu trabalho para garantir condições de segurança, já que são medidas que requerem maior educação ambiental da população e apoio do poder público”, contextualiza Vivian Lima da Silva, assistente técnica que atua no Reviravolta.

Em outro momento, o cuidado surgiu como necessidade de criar uma rede de apoio e troca, de prática de empatia, pois todas vivem realidades semelhantes, por vezes duras e que exigem coragem e resiliência constantes. “Surgiram relatos de sobrecarga e preocupações que também adoecem. Elas falaram sobre o medo com relação à família, como levar o vírus para casa, ficar doente, perder pessoas próximas ou mesmo precisar de atendimento médico e não ter acesso. Além disso, no nosso dia a dia, não percebemos o quanto a imagem de “fortaleza da mulher” é retribuída com falta de apoio, o que pode causar reações até mesmo físicas, como dores no corpo, fadiga e explosões emocionais interpretadas como falta de paciência – quando, na realidade, são consequência desse esgotamento”, afirma Vivian.

A importância de se falar sobre o cuidado para as mulheres na Coopere se dá para questionar a ausência de atenção às necessidades, para além da sobrevivência, que são negadas às mulheres pobres, negras, e em situação de vulnerabilidades diversas. No final da atividade, foi realizado, ainda, um pequeno exercício de alongamento e respiração. A escuta deu lugar para um suspiro de alívio e algumas risadas. “São mulheres fortes, guerreiras, que mesmo com tanta pressão ainda têm disposição para continuar esses encontros e criar um espaço de confiança e troca”, conclui Vivian.

Programa Reviravolta e Cooperativa Coopere-Centro

O Programa Reviravolta visa a contribuir para que a população em situação de rua, que busca inserção social e de trabalho, organize a vida pessoal e tenha acesso a políticas públicas de inclusão.

Por meio de atividades coletivas, experiência temporária de geração de renda com reciclagem, oficinas de formação, cidadania, educação ambiental e acompanhamento social, o programa pretende colaborar para que seus participantes reorganizem a sua vida pessoal e tenham acesso a políticas públicas de inclusão social, no sentido dar uma “reviravolta” em suas vidas.

Também é realizado o acompanhamento à Cooperativa Coopere-Centro, em seus aspectos sociais e organizacionais, e a participação em articulações em redes de incidência visando a ampliação e qualificação das políticas públicas para a população em situação de rua da cidade de São Paulo. Atualmente, a Cooperativa de Catadores Coopere-Centro mantém técnicos que contribuem com a inclusão no mercado formal de trabalho de aproximadamente 150 pessoas com trajetória de rua.

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