Prêmio Marielle Franco homenageia Olga Quiroga, inspiração na luta por moradia digna

mar 31, 2025 | 0 Comentários

Na última sexta-feira (28), durante uma Sessão Solene, a Câmara Municipal de São Paulo concedeu o Prêmio Marielle Franco de Direitos Humanos. A premiação, em sua segunda edição, foi instituída pela Resolução nº 2/2023 e tem como objetivo reconhecer e valorizar pessoas que atuam na defesa dos direitos humanos e no combate à discriminação e à violência, em temas como gênero, raça, etnia, origem, condição social, religião, orientação sexual ou qualquer outra forma de preconceito.

A grande homenageada desta edição foi Olga Quiroga, de 88 anos, referência na luta por moradia e direito do idoso, com mais de 60 anos de reconhecimento na área. Dona Olga, como é carinhosamente conhecida, é uma inspiração da luta por moradia e direitos sociais. Aos 88 anos, sua energia e dedicação permanecem inabaláveis, participando diariamente de reuniões, atos, mobilizações e articulações em defesa dos mais vulneráveis, especialmente das pessoas em situação de risco habitacional e dos idosos. 

Entre debates e encontros comunitários, está sempre “pra lá e pra cá”, como dizem aqueles que a conhecem. A disposição e a garra de Dona Olga são inspirações que movem não só os membros das organizações com as quais atua, mas também todos que acompanham sua trajetória de luta e transformação social. Atualmente,  tem se dedicado à luta por moradia digna para as pessoas idosas através do Grupo de Articulação para Moradia dos Idosos da Capital (GARMIC),  que atende pessoas com mais de 60 anos que buscam melhores condições de moradia.

Nascida no Chile em 1936, Olga Luisa Leon de Quiroga começou sua trajetória de militância ao se filiar ao Partido Radical chileno aos 13 anos, lutando pelos direitos dos excluídos. Formou-se em magistério e, nos anos 1960, mudou-se para o Brasil com seu marido, onde tiveram quatro filhos. Durante sua vida no país, trabalhou como vendedora em lojas de tecido no centro da cidade e realizando trabalhos domésticos em casas de família.

Também no Brasil, foi militante nas Comunidades Eclesiais de Base (CEB) da Igreja Católica, defendendo os direitos de crianças e adolescentes. Além disso, junto às mulheres, lutou pelo direito a creches em áreas periféricas, além de defender a Reforma Urbana nas cidades durante as décadas de 1970 e 1980. Nesse período, especialmente devido ao empobrecimento das famílias e ao aumento das necessidades financeiras, as mulheres se organizaram para exigir a construção de creches públicas que lhes permitissem trabalhar fora de casa.

Em 1986, começou a integrar a Associação de Movimentos de Moradia da Região Sudeste no grupo de base do Ipiranga. No ano seguinte, associou-se à União de Movimentos de Moradia de São Paulo (UMM-SP), onde atua até hoje como voluntária. Entre os exemplos de conquista, junto a muitas famílias, conquistou moradia digna através do Programa de Produção de Habitação por Mutirão no Jardim Celeste, na cidade de São Paulo.

Em 2018, Dona Olga foi agraciada com o Título de Cidadã Paulistana pela Câmara Municipal de São Paulo, uma honraria destinada a pessoas nascidas em outras cidades que realizam ações significativas para a capital paulista, sendo indicada pela então vereadora Juliana Cardoso.

Hoje, com quase 90 anos, não é exagero dizer que Dona Olga mantém um espírito jovem, repleto de planos, sonhos e vontade de mudar o mundo e a vida das mulheres, ao mesmo tempo em que compartilha toda sua experiência de vida como participante ativa e engajada em diversos movimentos, reuniões, audiências, eventos e manifestações relacionados aos direitos humanos.

Faz parte da secretária-executiva da União dos Movimentos de Moradia, foi do conselho tutelar, vice-presidente do Grande Conselho Municipal do Idoso, membro da Associação Nacional de Gerontologia (ANG), do Conselho Municipal do Idoso de São Paulo, do Conselho Regional de Saúde da Coordenadoria Sé/Centro Oeste e da Pastoral da Moradia da Região Ipiranga. 

Além disso, participou da Comissão Permanente do Idoso da Câmara dos Vereadores de São Paulo, sempre pressionando em prol da agenda dos idosos menos favorecidos da capital. Atualmente, atua como Coordenadora Geral do Grupo de Articulação para Moradia do Idoso da capital (GARMIC).

GARMIC: dignidade para a população idosa

O GARMIC é um movimento que começou suas atividades oficialmente em 1999 e atende pessoas com mais de 60 anos, geralmente com renda de um salário-mínimo, que buscam melhores condições de moradia. Esse grupo inclui pessoas em situação de rua, que residem em albergues, cortiços, favelas ou em locais alugados que já não conseguem pagar. O grupo também atua como um centro de informação, articulação, assessoria e reivindicação para idosos. 

Dona Olga e os outros 12 voluntários do Garmic organizam os membros para participar de reuniões mensais do coletivo, onde discutem direitos e cidadania, além de se mobilizarem para pressionar o governo. Eles atuam na conscientização, conversando sobre a importância de conhecer o Estatuto do Idoso, orientando idosos a optarem por albergues em vez de dormir nas ruas, promovendo passeios culturais e ajudando quem precisa de assistência médica.

Nos muitos anos de luta em 2007, o Garmic conquistou a Vila dos Idosos no Pari, projeto de locação social iniciado em 2004 e inaugurado com 145 apartamentos e administrado pela Cohab. No mesmo ano, Dona Olga foi homenageada com o Prêmio Nacional de Direitos Humanos pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, em reconhecimento a todo o seu trabalho.

Por toda a sua trajetória com a luta por direitos humanos, indicamos Dona Olga para o Prêmio Marielle Franco de Direitos Humanos. Sua atuação ao longo das décadas, desde a juventude até hoje, é marcada por um compromisso ativo que exemplifica os valores de coragem, resistência, resiliência e solidariedade que o Prêmio Marielle Franco representa, idealizado pela Comissão Extraordinária de Direitos Humanos e Cidadania, da Câmara Municipal de São Paulo.

Menções honrosas: Miriam Duarte Pereira e Neon Cunha

Também foram concedidas menções honrosas às ativistas Miriam Duarte Pereira e Neon Cunha. Miriam construiu uma trajetória de luta política pelos direitos dos adolescentes detidos na Febem após perder três filhos devido à violência policial e, atualmente, se dedica a defender e amparar as famílias que perderam seus entes em decorrência da negligência e crueldade do Estado.

Por sua vez, Neon é ativista, mulher transgênero, ameríndia e figura de destaque na luta pelos direitos LGBTQIAPN+, especialmente no que se refere à população trans, tendo se dedicado a essa causa por anos, com um impacto significativo na legislação brasileira relacionada à retificação de gênero.

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